Ela olha fixamente para você. Nua, zomba da sua roupa escolhida para ir ao museu. Ri da sua pompa de admirador de arte. Suspira após o almoço na relva, o encontro erótico com seus amigos, após beber e falar sobre o mundo, as ideias, o carnal e o sagrado. Ela se divertiu, está satisfeita. Ela é Maria Madalena antes da culpa.
O lanche ficou pela metade, jogado. Não era essa a fome. Passada a ação, estão serenos. O que se faz acompanhar por ela, que tenta ser seu companheiro, é Jesus. Observe o rosto de judeu, a mesma feição que vai ser eternizada na cruz. O companheiro que argumenta é Judas. Poderia ser São Tomé, que na obra de Da Vinci está em posição parecida, mas prefiro pensar que é Judas argumentando (negociando?) sobre seu destino maldito – afinal, sem a traição certa, não há futuro.
No alto, um pássaro quase escondido paira, com penas leves, avermelhadas, cujas asas definem o extremo de um triângulo místico de luz sobre aquela santa ceia profana.
Na água, uma mulher se lava, tenta apagar da pele os cheiros e as marcas daquele encontro até sobrar só sua versão da história. Somos nós, a Humanidade.
* Interpretação super livre do Dejeuner sur L ‘Herbe, Edouard Manet, 1863.
❤❤
Ótimo, Tina. Vou até procurar por aí outras leituras, só de curiosidade. Duvido que alguma seja tão sagaz. O que mais gosto: do olhar dela. (Passei a olhar mais pro Manet por causa de você, anos atrás. Sabia?)
Bj.
Primeiro:o blog ficou lindo. Estou com uma inveja de dar vergonha.
Segundo: que post maravilhoso. Aquele blog que eu amava e morreu (meio pra fazer cumprir seu nome) tinha um “jogo” que seu post me fez lembrar. Eles colocavam uma imagem (um quadro, uma fotografia) e cada um dos vários autores escrevia uma história baseado em. Gostei especialmente da zombaria destinada a mim e minha roupa-de-ir-a-museus.
Não sabia não! E você me fez olhar mais o Renoir. =) Sobre o Dejeuner, não tem nada a ver essa leitura com o que o Manet fez, mas é isso a arte 😉
😉
Então. A gente vê o que quer. Mas eu gostei demais da sua leitura, hahaha. Vou preparar uma plaquinha e levar ao d’Orsay (é lá, né? olhei na wiki) pra eles botarem do lado da obra e educar a plebe como eu, com roupa de museu.
Que post maravilhoso. Amo demais essas análises descompromissadas, mas que para mim fazem todo o sentido do mundo. Espero que apareçam mais, porque você as escreve muito bem.
Bisou.
Gente! UAU!
Amei, Tina!
Num encontro de nosso grupo de leitura em torno de Afrodite, de I Allende, fiz um levantamento de amor/sensualidade/pornografia misturado com comida/gastronomia/culinária nas artes. Quando esbarrei no Déjeneur sur l’Herbe no imagens do google, fiquei besta com a variedade de versões.
😽😽
Cris, como foi que fiquei todo esse tempo sem saber dessa tua escrita gostosa? Amei, fucei e li tudo que vi. Esse primeiro texto delicioso por aqui, os comentários dos livros no blog anterior e os textos secretos que descobri no Proibidão (desculpa). Mas amei, tudo, de verdade! 🙂
Hahahaha… Bem legal 🙂 adorei a análise!
Tina, que coisa mais linda, mulher. Quero uma interpretação livre de quadro por dia. Eu me alimentaria disso, feliz. Obrigada.
Poxa, Aline, que delícia ler isso, e saiba que você também me surpreendeu com os teus, engraçado né? A gente convive e não se conhece. Daí de longe começa a se entender. Eu liberei o Proibidão? Não lembro ahahahah bjks ❤
Renata, vou inaugurar uma série pra você, mas direto do Louvre! (provocação)
É verdade Cris, e depois ainda dizem que a internet afasta as pessoas… acho que as vezes é bem ao contrário né!? hehe Beijão!